A solidão do filho negligenciado em Dias de se fazer silêncio
- Brenda Destro
- 18 de set. de 2024
- 3 min de leitura

"Dias de se fazer silêncio", de Camila Maccari, foi uma obra que tocou partes de mim que eu nem imaginava que precisavam ser tocadas. Toda a história é emocionante e envolvente. Maria é uma menina que precisa lidar com a doença do irmão e com a “perda” da mãe, que antes sempre esteve presente para ela. “Perda” entre aspas, porque, embora a mãe de Maria continuasse fisicamente ali, com a doença de Rui, todo o foco se voltou para o filho caçula e para manter a casa o mais limpa possível, evitando agravar a saúde do menino.
Maria enfrenta uma confusão de sentimentos muito interessante de observar, e também muito característica da sua idade. Quando somos crianças, não sabemos organizar nossos sentimentos corretamente nem pensar de forma racional sobre as situações, muitas vezes tendo pensamentos que podem ser considerados egoístas.
Ela lida com tudo isso enquanto observa a mãe agora com outra prioridade, que apenas a manda fazer os afazeres da casa para que tudo esteja “um brinco” e em ordem, e vê a mãe e o pai indo e voltando constantemente do hospital para acompanhar Rui.

Achei fascinante a forma como Camila trouxe os pensamentos de Maria à tona. Parecia que eu estava realmente abrindo a cabeça de uma criança e acessando seus pensamentos mais íntimos — como quando, por rebeldia, a menina deixava de tirar o pó de algum objeto para chamar a atenção da mãe. Camila retrata de maneira brilhante toda essa crise interna da protagonista. O momento em que mais senti que estava “dentro da mente de uma criança” foi quando Maria questiona a mãe sobre ela não ter mais “cheiro de mãe”.
O livro é sensível e aborda, de forma muito bonita, temas como vida e morte sob a perspectiva de uma criança, apresentando suas dúvidas, questionamentos e até as culpas por sentir tudo tão intensamente. É uma leitura que faz refletir sobre família, amizade e até nos faz lembrar de feridas da infância que talvez tenham ficado escondidas.
É um livro cativante, talvez por sua capacidade de nos fazer sentir a solidão da irmã mais velha desde a primeira página. De repente, você se identifica com suas dúvidas e sente vontade de oferecer colo à pequena protagonista. Algo que me encantou no final do livro foi o fato de Maria ter encontrado na escrita uma forma de canalizar o que sentia. Mesmo sendo uma criança, ela lidou de forma madura com o próprio luto e ajudou sua mãe a enfrentar tudo também.
Uma leitura encantadora que mexeu comigo e me fez repensar minhas relações, de certa forma. Conversei com meus amigos próximos sobre o livro e estou ansiosa para saber a opinião deles. Se você já leu, deixe um comentário contando o que achou! :)
Como sempre trago algumas frases de destaque, aqui estão elas:
"A casa não é só uma casa, mas também é uma história por causa das pessoas." (p. 44)
"A gente lida com o que a gente tem." (p.61)
"Tinha a sensação de que palavras fossem o ponto final para transformar o vazio em uma realidade concreta." (p. 89)
"Parou e chorou todas as lágrimas, porque ela estava em casa e com pessoas que amava e a gente só deve esconder quem é de verdade das pessoas que não importam." (p. 158)
Ótima resenha, Brenda!
É maravilhoso como esse livro lida com diversos outros assuntos e acerta em diversos outros gatilhos que não chegam nem perto do assunto principal do livro. A escrita da Camila é de alguém que sentiu, sente e sabe o que as pessoas sentem, mesmo que não esteja conversando diretamente com o leitor.